domingo, 10 de dezembro de 2017

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Comecei a abraçar o minimalismo não por moda, mas sim por necessidade. Já contei esta história pessoal várias vezes: olhei para dentro do meu guarda roupa numa bela manhã de domingo e senti asco de mim mesma. Não estou a exagerar no adjectivo, foi mesmo este sentimento que se apoderou sobre a minha pessoa.

Agora que vejo tudo de forma muito mais clara, é com um sorriso no rosto que constato que sou de uma origem simples e humilde. Os valores que me foram transmitidos em nada pactuam com a rapariguinha que durante anos se escondeu por baixo de roupas (em elevado número mas de fraca qualidade), unhas de gel que hoje em dia só de pensar me envergonham, tinta no cabelo (quando a minha cor natural é tão bela), brincos e piercings que sem dúvida alguma agradavam bem mais os outros do que a mim. Atenção, não é de forma alguma meu intuito criticar quem tem piercings e até tatuagens, aliás, isso cabe a cada um decidir se usa ou não. Apenas um ideia de que eu os utilizava não para meu agrado pessoal, mas sim para agradar outrem.

Vivemos, indubitavelmente, numa sociedade que promove o consumo como forma de desculpabilização pelo tempo que perdemos no trabalho e não junto da família. Gastamos irracionalmente como forma de nos premiarmos por algo extraordinário que fazemos diariamente (mais que não seja levantar 5 dias por semana cedo para ir trabalhar), sem ousar questionar se o nosso dinheiro (que custa tanto a ganhar) vai ser aplicado em algo que nos faz realmente falta, se a ética por detrás do item é ou não justa, se é uma compra racional e com qualidade suficiente para durar uma vida. Admitamos, quantos de nós fazem estas perguntas quando decidem comprar algo? Arrisco-me a responder: muito poucos.

O clic sobre tudo isto foi de um momento para o outro, todavia, a mudança de comportamento pressupõe trabalho contínuo e sobretudo paciência. Tolerância. Sim, porque vai haver vezes e momentos que vamos errar e comprar por impulso. É uma longa jornada, contudo eu mesma posso garantir que é uma aprendizagem boa, gratificante, muda a nossa forma de ver o mundo e de comunicar com ele.

Aprendi que antes de comprar o que quer que seja posso tentar concertar. Por que não regressar ao tempo em que íamos ao sapateiro concertar o nosso calçado? Por que não trocar a alguns dos livros empoeirados que estão há anos na nossa prateleira com amigos ou vizinhos que partilhem do mesmo interesse pela leitura? Ou então, por que não aproveitar a folga e dar um passeio até à biblioteca e poder ler os imensos livros que estão à nossa disposição de forma gratuita? Por que não pedir à mãe que sempre teve tanto jeito para a costura para acertar uns pontinhos num buraco de uma meia em vez de comprar 10 pares de meias a 3 euros na Primark? A lista podia continuar, porém penso que percebem perfeitamente onde eu quero chegar
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Após uma mudança gradual sobre o forma de consumir, há também (como consequência) uma nova forma de olhar o desperdício, a alimentação e até a rotina de beleza. Alterei o uso de guardanapos de papel para utilizar exclusivamente guardanapos de pano. A marmita é feita e embrulhada em pano e frascos tipo pedreiro, assim como transporto compras na minha bolsinha de pano - amor eterno! Há meses que não usos cremes e passei a utilizar para este efeito óleo de amêndoas doces como substituto e não poderia estar mais feliz (até o meu namorado adora ao passar a mão pelo meu corpo, pasmem!). Não uso mais cotonetes porque uma toalha húmida cumpre mais do que bem a função. Fora desodorizante e o gel de banho foi ultrapassado pelo sabão.

Na alimentação a mudança foi maior do que alguma vez pensei ser possível, contudo e tal como já referi anteriormente, é uma mudança que acontece aos poucos. Sem pressões e sem medo de falhar - as falhas vão acontecer, cabe-nos apenas aprender com elas. A todas as refeições do dia como fruta e nas principais uma boa dose de legumes. Não como mais alimentos com açúcar, assim como café e chá só no seu estado natural: sem uma ponta de açúcar e/ou adoçante. Substituí o pão branco por pão de centeio ou integral e para além de constatar que é mais saudável, sacia durante muito mais tempo. Quatro ou cinco vezes por semana faço refeições em carne e a verdade é que já descobri imensas alternativas à carne e ao peixe. Não sei se algum dia irei ser totalmente vegetariana, contudo não me pressiono em demasia sobre esta forma de vida porque sei que toda esta mudança tem alterações no meu corpo, impacto, e por isso vou respeitando aquilo que o meu corpo me pede. Sem pressas e/ou pressões.

Tudo aquilo que acabei de relatar e descrever são apenas algumas mudanças que ocorreram na minha vida depois de decidir abraçar o minimalismo. Há dias difíceis e nem sempre tudo me corre na perfeição (alô, sou uma pessoa normal!), todavia posso garantir que hoje sou uma pessoa mais consciente de mim, do outro e do maravilhoso mundo que apresenta a mim todos os dias. Vivo de acordo com os meus princípios. Aprendi a apreciar os momentos em detrimento das coisas. Consigo poupar mais de 50% do ordenado para viajar, experimentar coisas novas e até para a aposentaria ao invés de gastar em algo superficial que me deixaria contente por umas horas apenas. Como já vos contei: é uma jornada trabalhosa, mas sem dúvida maravilhosa.

Claúdia

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